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sábado, 12 de dezembro de 2009

LER DEVIA SER PROIBIDO - Guiomar de Grammon

LER DEVIA SER PROIBIDO

Guiomar de Grammont


A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular um curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp.71-3.

sábado, 5 de dezembro de 2009

BERLUSCONI acusado de ser cùmplice da mafia

fonte:
http://www.publico.clix.pt/Mundo/mafioso-arrependido-implica-silvio-berlusconi-em-vaga-de-ataques_1412681


Gaspare Spatuzza é um ex-assassino da Cosa Nostra, arrependido transformado em informador. Hoje teve o seu dia em tribunal e afirmou que os atentados que o seu chefe, Giuseppe Graviano, lhe encomendou em 1993 pararam quando este lhe disse que já tinham o país nas mãos “porque Dell’Utri e Berlusconi são pessoas sérias e não como os inúteis socialistas que apoiávamos antes”.

É Marcello Dell’Utri, senador siciliano e um dos mais antigos aliados de Silvio Berlusconi, que está a ser julgado. Foi condenado a nove anos de prisão por associação mafiosa e recorreu.

“Graviano disse-me que tínhamos obtido o que queríamos graças à seriedade das pessoas que nos tinham ajudado... mencionou dois nomes, chamando a Berlusconi o ‘homem do Canal 5’ [uma das televisões do primeiro-ministro]”, disse Spatuzza na audiência do recurso.

A vaga de atentados a que se referiam as conversas entre Graviano e seu então braço-direito matou dez pessoas em diferentes cidades ao longo de 1993. Foi nesse ano que Berlusconi e Dell’Utri, entre outros, decidiram criar o partido Força Itália. Meses depois, já em 1994, concorriam a eleições e chegavam ao poder.

Berlusconi está acusado de suborno e corrupção, mas não é investigado neste processo. Nem ele nem o senador se mostraram preocupados. Membros do Governo fizeram saber que ontem Berlusconi participou “tranquilo” num conselho de ministros, denunciando uma vingança por todos os mafiosos que tem posto atrás das grades. “Claro que está calmo. Tem mais medo da mulher do que de Spatuzza”, disse Dell’Utri, numa referência ao divórcio do primeiro-ministro.

No tribunal de Palermo, a sessão teve ar de coisa grave: Spatuzza foi ouvido atrás de um biombo branco com polícias nas várias pontas, dentro de uma sala instalada num bunker subterrâneo.