A política dos
"desaparecidos" que o ditador Jorge Videla terminou por admitir
com várias declarações e no tribunal, era conhecida desde 10 de abril de 1978
pela Comissão Executiva da Igreja Católica que, porém, absteve-se de informar o
público. Tudo isto vem de um documento encontrado no arquivo da Conferência
Episcopal.
O documento
tem o número 10.949 e o número já dá uma idéia da quantidade de informação que
a Igreja continua a manter em segredo. O documento foi escrito pelo Vaticano ao
final de um almoço com o dirado Videla e é armazenado no arquivo de 24-II. Consegui
visualizar o documento sorrateiramente depois de um pedido formal, as
autoridades eclesiásticas tinham respondido com a afirmação surpreendente segundo
a qual o episcopado não teria arquivos.
Quando ele
se reunia com representantes da Igreja Católica, o ditador Videla falava com a
franqueza em uso entre amigos. O então presidente do episcopado, o
Cardeal Raul Francisco Primatesta, informou a Assembleia plenaria que ele e
seus dois vice-presidentes, o arcebispo Vicente Zazpe e o cardeal Juan Aramburu,
haviam falado a Videla sobre os casos de presos, aparentemente colocados em
liberdade, mas na verdade assassinados, se eram interessados dos sacerdotes desaparecidos,
como Pablo Gazzarri, Carlos Bustos e Mauricio Silva, e de outras pessoas
desaparecidas nos dias que antecedem a reunião com Videla. De acordo com o
documento episcopal "o presidente respondeu que aparentemente seria óbvio afirmar
que eles já estão mortos; se trataria de cruzar uma linha divisória: estes
sumiram, se foram. Este seria o mais claro, no entanto, nos leva a uma série de
consideraçoes em relação ao local onde eles foram enterrados: em uma vala
comum? E em tal caso quem os teria sepultado nesta cova? Uma série de perguntas
as quais as autoridades governamentais não podem responder sinceramente, porque
envolve várias pessoas”, um eufemismo para aludir àqueles que tinham feito o
trabalho sujo de sequestrar-los, torturá-los, matá-los e fazer desaparecer os corpos.
O comportamento do clero tinha nuances sutis. Zazpe perguntou: "O que
respondemos às pessoas visto que existe uma base de verdade no que eles
suspeitam?". E Videla “admitiu que era verdade." Aramburu explicou
que "o problema é responder em modo que as pessoas não continuem a pedir
explicações."
Primatesta
explicou que "a Igreja quer entender, colaborar, é ciente de que o país
estava em um estado de caos" e que ele mediu as palavras, porque ele sabia
muito bem "o dano que poderia causar ao governo". Primatesta, também,
insistiu sobre a necessidade de chegar a uma qualquer solução, enquanto previa que
no fim o método consistente em fazer desaparecer as pessoas produziria
"efeitos negativos", considerado "a amargura que atingia muitas
famílias". Este diálogo de extraordinária franqueza mostra que seja Videla
seja a Igreja conheciam muito bem os fatos e sotolinha a cumplicidade
com a qual avaliavam e decidiam em que modo responder às denuncias das pessoas,
consideradas por ambas as partes como uma ameaça comum.
Ao escolher
esta política de assassinatos ilegais, que Videla, agora define "comoda",
porque evitava de fornecer explicaçoes, a junta militar jogou uma sombra de
suspeito sobre todos os quadros das forças armadas e das forças de segurança, sombra
que começou a se dissipar com o reabertura dos processos que permitiram
determinar as responsabilidades individuais que a junta tinha encoberto. Até hoje,
houveram 253 condenações e 20 de absolvições, o que prova que em uma democracia
ninguém é condenado preconceituosamente e sem poder exercer o seu direito de
defesa. Até o momento apenas um militar capelão Christian Von Wernich, foi
condenado por cumplicidade em casos de tortura e assassinato.
Zazpe morreu
em 1984, Aramburu em 2004 e Primatesta em 2006. Em 2011 renuncoiu por limite de
idade Jorge Casaretto, o último bispo da época ainda em atividade. No entanto,
a Igreja continua a manter um silêncio obstinado que às vezes enfatiza sua
crescente irrelevância no panorama da sociedade argentina. A pouca influência
da Igreja se é vista claramente no ano passado quando, apesar de sua
mobilização, o Congresso alterou o Código Civil para permitir o casamento a
todas as pessoas independentemente do sexo dos contratantes.