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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BERLUSCONI visto pelo "The Economist"

Berlusconi rebaixa Itália, mas desta vez não está acima da lei

Caio Blinder, de Nova York

NOVA YORK- Bella Italia? Não. Feia Itália ! Este é um país em que beldades anunciam que foram pagas para ir à cama com Silvio Berlusconi e o primeiro-ministro paga qualquer coisa para amordaçar a imprensa, intimida opositores e acusa a Justiça que derruba sua imunidade penal de estar a serviço da esquerda. Triste Itália em que este magnata das comunicações guindado ao poder rebaixa o país.

Na expressão da revista "The Economist", a Itália hoje parece uma remota ditadura. Ali no coração da Europa civilizada, dezenas de milhares de pessoas precisam sair à ruas para gritar por liberdade de expressão, como aconteceu no sábado passado em Roma. Ao menos a Corte Constitucional (Supremo Tribunal) agiu com independência e na quarta-feira derrubou a lei que protegia Berlusconi de processos penais enquanto estivesse no cargo, alguns associados à corrupção no seu império de comunicações.

A Itália de Berlusconi está rebaixada no índice de liberdade de imprensa da Freedom House. Na lista de 195 países, está agora na posição 73, acima apenas da Bulgária. No diagnóstico do grupo Repórteres sem Fronteiras, ocorrem ataques à imprensa na Itália que dão a sensaçao de que se está no Zimbábue (e olha que o país africano de Robert Mugabe é barra pesada).

É exagero, mas este é o estado emocional na terra de Berlusconi, onde a imprensa oficialista ou de propriedade do primeiro-ministro o trata como um santo perseguido por mentirosos safados e os enclaves de resistência o consideram um mero delinquente. Com mais sobriedade, o pessoal de Repórteres sem Fronteiras acerta ao lembrar que a Itália é o país da União Européia com menos liberdade de imprensa. É isto que vale (e já é muito desolador) e não comparações descabidas com Zimbábue. A comparação vale com a própria Itália. Ainda conforme "The Economist", desde a época de Mussollini não era tão acintosa e alarmante a interferência do governo na imprensa.

A razão imediata dos protestos de sábado foi a emissão de mandados judiciais pelo primeiro-ministro contra dois jornais de oposição, "La Repubblica", por insistir na cobrança de dez questões sobre a vida privada do primeiro-minstro e "L''Unitá", que o acusa de abuso de poder pelo controle da imprensa. Ele também está processando jornais na França e Espanha.

Berlusconi investe em uma clara campanha de intimidação contra o que sobrou de imprensa livre no país. Seu conglomerado Mediaset controla três dos sete canais de televisão. Outros três, da estatal RAI, respondem ao Parlamento dominado por sua coalizão de governo. Os tentáculos midiáticos de Berlusconi também estão em jornais diários, revistas, editoras e mundo publicitário.

Berlusconi insiste que existe liberdade de expressão na Itália e que as investigações sobre ele são uma farsa política. Linguagem orwelliana. Nenhuma surpresa na inspiração do autor de "1984" e "Revolução dos Bichos". No julgamento na Corte Constitucional que derrubou a imunidade penal do primeiro-ministro (a chamada lei salva-Berlusconi), seu advogado Gaetano Pecorella argumentou que o dirigente estava acima da lei, dizendo que ele deveria ser considerado "primus super pares", primeiro acima dos iguais, dando uma nova versão ao mais familiar latim "primus inter pares", ou primeiro entre os iguais.

Não deu outra. O deputado da oposição Massimo Donadi observou que o argumento lembrava os porcos em "Revolução dos Bichos" decretando que "todos animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros". Pelo menos na quarta-feira, a Justiça conferiu outro veredicto à fábula orwelliana. Mas Berlusconi, que garantiu que não vai renunciar, ainda tem apoio de uma massa popular que o considera "primeiro acima dos iguais". Até quando esta massa orwelliana vai seguir o pequeno "grande irmão" bufão?

fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/caio_blinder/2009/10/08/berlusconi+rebaixa+italia+mas+desta+vez+nao+esta+acima+da+lei+8770924.html

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